sábado, 28 de março de 2009

c'est la vie

Depois de 9 meses de espera, nasce a sua filha. Você até a batiza com o mesmo nome de um ícone eterno de elegância e beleza, Grace Kelly, prevendo para aquele pequeno ser um futuro fantástico. Começa a labuta da maternidade/paternidade: troca as fraldas, dá mamadeira, acorda de madrugada quando ela chora, passa a noite em claro quando ela fica doente, ensina as primeiras palavras, o certo e o errado.
Um dia, descobre que aquela sua garotinha, já adulta, se tornou um símbolo sexual. Talvez não tão sofisticada quanto a musa que te inspirou ao escolher o nome da rebenta, mas faz um certo sucesso pelos seus atributos físicos, que se desenvolveram além do que você imaginava. Recebe um apelido engraçadinho, Mulher Maçã. Não se sente, é óbvio, tão confortável com tal constatação... Entretanto, a sua filha já é maior de idade e não há nada que possa fazer. A frase repetida tantas vezes durante as broncas, quando-você-crescer-e-tiver-sua-casa-e-seu-dinheiro-vai-poder-fazer-o-que-quiser-mas-enquanto-viver-comigo-não, para o seu pesadelo, se realiza do modo mais extremo.
Em uma tarde de sábado, ao acessar a Internet (ou abrir o e-mail mandado pelo cunhado), dá de cara com a sua garota ilustrando uma notícia de um site de fofocas, nesta situação:


Leva um susto, quer pegar imediatamente o telefone e não sabe se esperneia com a sua filha, com o fotógrafo do site ou com o cidadão folgado/punheteiro segurando o celular. Mas daí você se acalma e se questiona onde foi que errou. E que talvez nem seja tão ruim, pois arrumar emprego e viver decentemente (?) está tão difícil nos dias de hoje... É capaz dela estar mais realizada profissionalmente do que a sua vizinha que trabalha como balconista e se duvidar, ganhando mais do que os próprios pais. Suspira, abre um sorriso e sente um certo orgulho. Deixando o mundo ser uma confusão ainda maior do que a cabeça desta que lhe escreve.
Afinal, se cada um precisa arrumar um lugar ao sol, e alguns usam o que têm em mãos (ou no corpo) pois sempre foram estes os seus chamarizes, quem irá condenar a sua filha?
A menina pouco atraente, mas que tirava as melhores notas na escola, adoraria ser como a coleguinha curvílinea, que mesmo sem ter grandes atributos intelectuais, parecia ser bastante feliz. E vice-versa. Cada uma desejando, no segredo dos seus diários ou nos pensamentos soltos que nos ocorrem antes de dormir, a vida da outra.
Mas mesmo com este raciocínio liberal e apaziguador, alguma coisa me incomoda em tudo isso. Infelizmente, nem as heroínas cujos sutiãs foram incendiados em praça pública conseguiram dar uma resposta definitiva, que dirá eu.
E assim dormimos todos, aparentemente, em paz.

Nenhum comentário: